MEDICINA×PACIENTExHOSPITALxEU=TRAUMA
Esse será um post longo pois tem muita coisa envolvida.
Vou falar da minha relação com a medicina e sobre os traumas causados por uma medicina de péssima qualidade.
Também vou falar dos traumas causados também pela ausência de meu pai na minha vida e como machuca ver como as Forças Armadas trata uma pessoa que colocou a vida militar na frente da sua própria familia.
Em primeiro lugar quero falar que acho que a medicina é uma área maravilhosa. Nada como saber salvar alguém. Pra mim, medicina nem profissão é e sim quem se interessa por essa área faz um voto devocional as pessoas assim como uma carreira religiosa.
Evidente que quem faz medicina vai trabalhar pois qualquer um precisa sobreviver. Mas ser médico ou enfermeiro vai além disso.
Para praticar uma medicina de qualidade é necessario dedicação, não dedicação a doença mas sim ao paciente. O paciente é um ser integral. Ele tem corpo e mente. Não é um pedaço de carne.
O bom médico é aquele que conversa com o paciente e o escuta atentamente procurando principalmente lhe dar conforto, solidariedade.
Muitos médicos vem com a desculpa que "não ganho bem" e por isso praticam uma má medicina.
Conversando uma vez com um jovem médico mas altamente especializado tanto em hospitais públicos e privados disse: "o médico não ganha mal. Ele quer ganhar muito e trabalhar pouco."
Esse médico trabalha em 8 hospitais, cuida de uma clínica e ainda encontra tempo para fazer cursos e fazer visitas frequentes aos seus pacientes, mesmo nos hospitais públicos, nem que tenha de perder seu domingo.
Você não pensa assim? Então escolheu a profissão errada.
Melhor voltar ao banco da faculdade e fazer economia por exemplo. Trabalhar num banco ou na bolsa o fará ganhar dinheiro sem precisar desse encontro próximo com outro ser humano.
Posto isto, eu vou dizer que nunca tive problema com médicos e hospitais, até me agradava ficar no meio.
Minha última internação foi em agosto de 2010 e até então um probleminha aqui e ali mas fui tratada de uma maneira correta no Hospital Central da Aeronáutica.
Todas as vezes que ia na emergência também fui tratada com atenção.
Atenção essa que não aconteceu nos últimos meses. No ambulatório encontrei médicos frios que nos tratavam como se estivesse fazendo um favor, ou que fossemos mesmo um estorvo.
Fim do mês de dezembro, dia 31 cheguei a emergência com 39,5° de febre e tossindo com chiado no peito. A médica de plantão pediu um raio x e disse que não estava com pneumonia ou bronquite. Então porque meu peito chiava? Passou um antibiótico para tomar por 7 dias e se não melhorasse em 3 dias que voltasse.
Como não melhorei, voltei ao hospital, dessa vez a médica de plantão me auscultou, me deu um corticóide na veia e me passou para fazer uma nebulização. Ainda não havia melhorado em nada e ela nem pediu outro raio x, não quis ver o anterior, me deu outra dose de corticóide e me deixou lá a ver navios, sem respirar de tanto tossir. Ninguém se importava com o que estava acontecendo. Apareceu um médico que me deu uma receita de corticóide não especifico para meus sintomas e me manda de novo pra casa. Evidente que nada disso surtiu efeito.
Os médicos abrem a boca para falar que você tem que procurar um médico e não a internet mas desta vez, mais uma vez, encontramos o remedio adequado na internet. Na primeira aplicação já parei de tossir e consegui respirar enfim.
Se você pensa que por estar num hospital militar vai ser mais bem tratado que no SUS engana-se. É a mesma porcaria.
Da última vez que minha mãe foi internada para uma pequena cirurgia na boca, a esposa de um oficial, ficou internada numa enfermaria e eu passei com ela 3 dias e 3 noites sem passar nenhum enfermeiro ou médico. Apenas no dia da cirurgia apareceu uma enfermeira com uma bolsa de soro e uma seringa dizendo que tinha um trabalho para mim. Machucaram o nariz de minha mãe com uma sonda e sangrou muito mas quem fez o curativo foi uma leiga, eu, acompanhante apenas.
Minha mãe era diabética, renal, cardíaca e tinha dezenas de medicação para tomar e se ela não tivesse levado os dela não teria tomado nenhum.
Ela teve alta no ambulatório e ficamos mais de 4 horas esperando uma enfermeira para tirar o soro do braço e quando fomos reclamar ela nos disse pra gente mesmo tirar e ir embora. Ou seja qualquer paciente pode "se dar alta".
Falta de responsabilidade.
Nesses ultimos anos a situação da minha mãe piorou, os quadros se agravaram e ainda apareceu um câncer no seio.
Os ultimos meses de minha mãe não foram fáceis. Um médico era em um hospital, o outro do outro lado da cidade. Aos poucos minha mãe foi definhando, se tornando mais fraca, caia muito, usava cadeira de rodas mas ninguem do hospital tratou de lhe dar uma atenção diferenciada por ser esposa de um oficial reformado. Ate em um quarto sem ar condicionado passando mal ela já teve que ficar.
Aí você me diz, bom, na atual situação do país é até normal. Não não é.
Quando no dia 02/11 a levamos em estado grave para este hospital, sua situação bem critica ela ficou na uti da emergência até liberar um leito na UTI propriamente dita.
Eu creí que havia deixado minha mãe em boas mãos. Me enganei redondamente.
O que significa UTI? UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO e crei que tratamento intensivo está além dos equipamentos. Não houve NENHUM tratamento psicologico ou psiquiatrico. Largaram minha mãe num canto, com dor, com acessos de ambos os lados do pescoço e amarrada. Essa é a ultima lembrança de minha mãe, amarrada igual a um porco para ser abatido. Nenhum contato pessoal entre enfermagem e medicos com ela. Vinte e tres horas sozinha é pra enlouquecer qualquer um. Até que um dia ela desistiu. Eu também desistiria.
Tenho raiva do que fizeram e do que não fizeram com ela. Se a vida dela já estava no final, nós, família tinhamos que ter sido informados para tomar as devidas decisões. Ela poderia ter morrido cercada por suas filhas, neto, marido e genro, devidamente sedada e com medicação para dor. Mas todo dia a desculpa era que no dia seguinte para o quarto e o estado dela iria melhorar.
Minha mãe morreu sozinha, com dor, amarrada.
Não perdoo quem fez isso com ela0, que fez isso com a gente.
Meu pai se dedicou mais de 40 anos a Aeronáutica. Se a Força Aerea tem uma base aerea em Pirassununga foi porque meu pai se dedicou a isso. Muitas e muitas vezes fiquei sem pai pois ele sempre estava em outro estado o que me causou traumas profundos até hoje com meus quase 53 anos.
Muitas vezes saia a noite pois era convocado.
Ditadura militar ou não, não importa, ERA MEU PAI QUE COLOCOU A AERONAUTICA NA FRENTE DA FAMILIA ACREDITANDO QUE ESTAVA CONSTRUINDO UM PAIS MELHOR. E para que isso acontecesse minha mãe teve que ser mãe e pai e cuidar de tudo na familia inclusive cuidando da mãe e irmão do meu pai.
FALO E SEMPRE FALAREI, AQUELE HOSPITAL DEVERIA ESTENDER UM TAPETE VERMELHO PRO MEU PAI PASSAR.
Esse homem que mesmo hoje aos 83 anos diz nao querer morar em outro pais pois a Aeronáutica pode precisar dele.
Essa mesma Força Aérea que nos ignorou, que não tem lembrança.
Tenho raiva, muita raiva. Perdi meu pai na infancia e agora perdi minha mãe na maturidade.
Tenho trauma daquele hospital e quem vai pagar a conta? Quem vai pagar a conta dos traumas da minha vida?
Só posso desejar que essas pessoas recebam em dobro os cuidados que minha mãe teve e meu pai ainda tem.
Isso não vai ficar assim.
As pessoas vão ler minha história.
Pelo menos isso eu posso fazer já que não posso trazer minha mãe de volta.
Eles vão saber a dor da saudade que corroe meu peito.
E agora? Quem vai me recontruir? Porque eles me destruiram e eu vou ficar com aquela imagem da minha mãe pedindo pra tirá-la de lá?
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