O Brasil já escolheu seu destino

PARA LER E REFLETIR


O Brasil já escolheu seu destino
Estava, numa dessas manhãs, a ouvir pelo rádio um comentário do jornalista Ricardo Boechat. Segundo ele, uma professora, sua amiga, lhe havia pedido para que divulgasse o estado de abandono da educação no Brasil. Ele lhe respondeu que divulgaria, pois este era seu trabalho, mas que não tinha obrigação de resolver o problema; pois este poder – o poder de resolvê-lo – estava nas mãos da população. Porém, a população não se mobiliza, não porque não existam pessoas dispostas a ir para rua, e sim porque elas se dispõem somente a sair para blocos, carnaval, shows de música... Se ele, por exemplo, realizasse uma convocação para  um evento do Cordão da Bola Preta – que já levou às ruas dois milhões de pessoas no último carnaval – e na hora H dissesse que não haveria desfile mas que iriam caminhar pela saúde, educação ou qualquer outra reivindicação social, antes mesmo de terminar a convocação ele já teria apanhado. E concluiu: "o Brasil já escolheu o seu destino.”...
Sim, é verdade. O povo brasileiro parece já ter escolhido seu destino.
Escolheu seu destino quando passou a considerar essencial – com o devido incentivo das empresas, dos bancos e do governo – tudo aquilo que a propaganda afirma que é:  a diversão sem cérebro – Carnaval, futebol, sexo - , as redes sociais, as compras... ah, as compras...quanta enganação... Gente, eu também amo comprar! Quem não gosta? Mas temos que pensar no domínio que o consumo exerce sobre as nossas vidas. No quanto substituímos o “ser” pelo “ter” e reconhecemos a posse de coisas como única medida de bem-estar!
Senão, vejamos: lembro-me de ter visto um cartaz no shopping  que dizia: "não há nada que um dia de compras não cure"! Ou seja: está deprimido? Compre. Brigou com o marido / companheiro? Compre. Foi demitido? Compre! Está endividado? Compre!!
No entanto, todos nós sabemos que não é assim, não é? Mas compramos. Na hora, ficamos felizes; mas no dia seguinte, o problema volta de novo e ainda pior, com uma dívida no cartão de crédito. Sim, porque ainda por cima você não ganha o bastante para comprar o que precisa à vista, que dirá os badulaques que as propagandas empurram.
Mas, que importa? Acabamos por nos convencer de que é mais importante ter  uma TV LED 3D  do que uma educação pública, gratuita e de qualidade. Ou que é melhor ter um notebook novinho do que um sistema público e universal de saúde.  Convencemo-nos de tudo isso porque somos medidos, avaliados por nós mesmos como cidadãos não pelos serviços públicos que tenhamos sabido reivindicar, construir, conquistar e manter, mas sim pelos carros, TVs, geladeiras e celulares que ostentamos.
Mas... a saúde, acesso à moradia, o transporte público e a educação são obrigações do Estado, que arrecada impostos para cumprir tudo isso! E nós, tolamente, trocamos a nossa mobilização para exigir que esses direitos sejam atendidos pelo “direito” – que só pode ser exercido com dinheiro - de comprar coisas! Absurdo, não é? Mas é o que estamos fazendo todo dia, sentando a bunda e ficando horas a fio na internet!
Não que a internet não seja uma coisa boa ou má. Ela é, simplesmente, necessária. Só que deixamos que ela tomasse conta da vida da gente!
Cadê os sindicatos? Cadê as associações? Cadê os jovens que sempre lutaram pelas utopias?
Se querem saber, estão andando por aí que nem zumbis com seus smartphones.
Que me lembre, a última grande manifestação dos jovens que vi foi no impeachment de Fernando Collor, com os caras-pintadas, que víamos nas ruas, pedindo por sua saída. Depois disso, mais nada. E isso foi há mais de vinte anos!
Agora chegamos a um ponto que simplesmente queremos mais, cada vez mais, acumular tudo, sempre, agora e já.
Estamos, todos, anestesiados por poder comprar coisas a que simplesmente não podíamos ter acesso, e tratamos  de nos acomodar, porque achamos que, se exigirmos algo mais, podemos pôr a perder todas essas “conquistas”. Afinal de contas, o patrão pode não gostar de ver nossas caras na rua...
Vocês, eu não sei, mas eu  abriria mão, de bom grado, de todos esses bens “indispensáveis” para ter segurança, educação, saúde, transporte de qualidade, moradia para todos.
Não me importaria de pagar ainda mais impostos, desde que os recursos realmente  viessem a ser usados para garantir tudo isso. Só que não são!
Mas, fechamos os olhos... E  seguimos fingindo que estamos fazendo alguma coisa, juntando um grupinho ali, outro acolá, uns mil gatos pingados no máximo, para tentar resolver um problema por vez.
Pois o povo brasileiro, infelizmente, parece que já escolheu o seu destino.
Espero que pelo menos reflitam sobre isso e saibam que nós, população, somos tão coniventes com esses políticos e com a corrupção não reclamando de fato nossos direitos.

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